ONDE ESTÁ O TEU IRMÃO?

04/06/2012 14:56

( Gn. 4,9)

 

 
Por vezes nas estradas da vida, cruzamos com pessoas que trazem consigo uma história de vida tão adversa, tão contrária ao que estamos acostumados a encontrar, que tentamos descer do nosso “trono de conforto” e muitas vezes acreditamos tê-lo feito, mas em essência não.
Quando se medita profundamente sobre “ir ao encontro do irmão”, “ser pro irmão”, “viver para o irmão”, no sentido evangélico, com os sentimentos que Cristo nos exorta a viver, percebemos que em quase nada renunciamos aos “apegos” que não condizem com o chamado à “servir a Deus”.
Na Palavra de Deus, encontramos no livro do Profeta Isaías, capítulo 47, as seguintes palavras: “1Desce de teu trono, agacha-te ao solo… assenta-te no chão, sem trono… 2Toma a mó, vai moer a farinha, tira teu véu, arregaça teu vestido, descobre tuas pernas para passar os rios, (descobre tua nudez, que se veja teu opróbrio).” Nessas palavras gritadas pelo profeta, podemos ouvir o grito de Deus a nós dizendo que deixemos aos apegos sociais, a imagem social, ao materialismo que tanto nos afoga em deveres e vícios, tornando o Evangelho que há em todos, uma vivência amena, cinza, opaca. Uma vivência que se resume em círculos de pessoas que rezam, que se conhecem, se suportam, e procuram se amar como Cristo nos amou. Mas a força deste amor acaba se tornando uma camada tão fina sobre nossa pele que no primeiro impacto, nos sentimos atingidos, nosso coração endurece, se fecha, congela, e como criança mimada e rebelde se defende de algo que nem sabe o que é. E mal sabe que é apenas a defesa de SI MESMO pois a face da nossa limitação é revelada no irmão. Mas foi este mesmo Evangelho que levou São Francisco de Assis a se despir, a tirar a venda que cobria sua nudez, muito mais psíquica que corporal, perante todos, declarando ao Senhor e a todos que ele não mais queria viver as convenções sociais que o cercava, mas sim viver como os lírios do campo e os pássaros do céu que em tudo eram livres e o Senhor era providente; “Olhai as aves do céu, não semeiam nem ceifam, nem recolhem nos celeiros e vosso Pai celeste as alimenta. Não valeis vós muito mais que elas?” (Mateus 16, 26). Mas este ato de amor, não se encerra em si mesmo. Foi o amor à Deus, que o levou a amar infinitamente seus irmãos e se tornou o grande gerador deste impulso interior. O Espírito Santo pairou sobre a vida deste jovem trazendo a inquietude celeste. O amor não deveria acabar em si mesmo, mas no ato de entrega total à Deus, que o fez despojar-se de tudo que tinha, vivendo assim uma experiência profunda do amor de Deus, que não coube nele mesmo, mas na entrega total ao próximo.
No exemplo do mesmo Santo, quando começou a ajuntar pedra por pedra, para reconstruir a Igreja de Cristo, é também revelada uma súplica de Deus, que pede para irmos de encontro ao Cristo que se mostra no semblante do oprimido. Para que coloquemos a mão na massa, para agirmos e não deixar a paixão que habita em nosso peito por Cristo se amenizar, se tornar um amor cheio de limitações, mas um amor sem fim, um amor capaz de fazer loucuras pelo Amado e consequentemente pelo irmão, um amor que acredita no cuidado de Deus por nós, em qualquer situação, sendo ela a mais adversa possível.
Não podemos deixar a chama deste fogo se apagar. Esta chama de amor precisa não caber em nós. Se seu amor pelo Pai está “equilibrado” desconfie! Adore Jesus na Santa Missa pela Eucaristia que é o ápice da nossa fé. Adore Jesus que se faz tão frágil no Sacrário. Adore Jesus no seu silêncio dedicado. Adore Jesus para se tornar a imagem e semelhança do Amado. E que esta imagem seja de Deus, apenas de Deus, e não das frustaçoes que o mundo trás, dos desamores e desabores da vida.
Precisamos nos sacrificar para que consigamos olhar nossas misérias com olhar de transformação e aceitar que precisamos mudar, crescer em Deus, para que no dia que nos pedirem “esmolas” possamos fazer como os Apóstolos Pedro e João fizeram com o coxo à porta do templo: “Quando ele (o coxo) viu que Pedro e João iam entrando no templo, implorou a eles uma esmola. Pedro fitou nele os olhos, como também João, e disse: ‘Olha para nós’. Ele olhou com atenção, esperando receber deles alguma coisa. Pedro, porém, disse: ‘Não tenho nem ouro nem prata, mas o que tenho, eu te dou: em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda!’” (Atos 3, 3-6). O desejo de Deus, é que ao nos fitarem, saibam que não temos ouro nem prata para oferecer, mas teremos a maior riqueza do mundo, a riqueza celeste: JESUS! Que saibam que temos o amor de Deus pra dar. Amor capaz de restaurar, de acolher, de transformar, de curar, de libertar, e principalmente, amor capaz de verdadeiramente AMAR. E perante isso, se faz necessário entender: aquele que te foi confiado, um dia te será cobrado. Sabe onde está aquele que te foi confiado? Aquele que é sua chance de curar as chagas de Cristo por ele? Aquele que você consolará o coração de Deus se fazendo amor pra ele? Alguém concebido por Deus está a te esperar…Onde está teu irmão? Onde está?


- Maria Isadora Librais